O FARISEU
ANTE AS ABSTRAÇÕES DE JESUS.
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Pr. Ignário Pinto |
Muito do
ensino do Senhor Jesus, sem dúvida, intencionou alcançar pessoas diretas as
quais desejava repreender e chamar ao arrependimento. Contudo, menos duvidoso
ainda é o fato de muitas de suas palavras terem sido proferidas abstraindo
delas pessoas específicas, porquanto eram somente ensinos, repreensões e exortações
gerais dirigidas a todos e a ninguém particularmente. No entanto, aplicáveis a
cada um na exata medida em que alguém se amoldava ao figurino traçado pelo
Senhor.
No sermão do
monte, Jesus prega para uma multidão e afirma que seus discípulos são luz do
mundo e sal da terra (Mt. 5:13-16); alerta também para que tenham cuidado com
os falsos profetas (Mt. 7:15); assinala que os tais sofrerão castigo eterno (Mt.
7:23). É óbvio que ao falar “vós sois o sal da terra e luz do mundo”, Jesus não
estava a asseverar que todos, indistintamente, no meio daquela multidão haviam
experimentado a graça da salvação, mas que seus verdadeiros discípulos haveriam
de se distinguir neste mundo através de características próprias. De igual modo,
não podemos concluir que no meio da multidão havia falsos profetas, mas apenas
que esta é uma possibilidade real, que em cada contexto há de ser revelar.
Frise-se
ainda as palavras de juízo contra as cidades de Betsaida e Corazim (cf. Mt.
11:20-24), em razão de não terem se arrependido. Repare que o juízo de Cristo
foca ambas as cidades. Estaria o Senhor
da graça a dizer-nos que nestas cidades nenhuma alma se salvaria? Seguramente
esta não era a sua intenção. Por óbvio, não estava a indicar que ambas as
cidades eram destituídas de alguma pessoa alcançada pela graça salvadora, mas
apenas generalizando um juízo por conta de que a impiedade, incredulidade e
rejeição ao Filho de Deus eram marcas patentes nestas cidades. Neste mesmo
sentido, observamos Jesus acusar Jerusalém de matar profetas e apedrejar
enviados por Deus (cf. Mt.23:37-39). Diante de tal acusação pergunta-se: todos
os moradores de Jerusalém mataram, de fato, profetas e enviados por Deus?
Certamente não! É somente uma generalização aplicável, no caso concreto, a quem
efetivamente realizou o ato criminoso.
Não obstante,
o Mestre direcionar parte de seus discursos a pessoas indeterminadas, os
fariseus, comumente, tomavam para si as palavras do Senhor; e, não raras vezes,
arrastados pelo ódio, vituperavam o Cristo divino. Verifica-se pelo testemunho
bíblico que essa postura de vitimização e a consequente reação furiosa assumida
pelos fariseus, decorriam fundamentalmente de três razões.
Primeiramente pelo
espirito imoderado a revestir o caráter de tais homens. Esta falta de senso
de ridículo – pois achavam que eram mais do que realmente eram (cf. Jo. 8:39,
41, 53; 9:27-29,34), e, assim, entendiam que Jesus gastava seu precioso tempo construindo
estratégias para espicaça-los – conduzia o fariseu a um comportamento armado.
Tudo que o Senhor dizia, lá estavam os fariseus prontos para rebater; afinal,
se entendiam como a última Coca-Cola no deserto, quando, na verdade, não
passavam de um guaraná Relva.
Em segundo lugar, os
fariseus não conseguiam entender as abstrações dos muitos discursos de
Jesus porque tinham o coração encharcado
de ódio. O ódio cega (Cf. 1Jo. 2:9-11) e embota a mente de tal maneira que
eles não conseguiam discernir nada dos ditos do Senhor. Quem odeia perde a
noção de ridículo e passa a agir desferindo golpes contra aqueles que, em sua
mente esquizofrênica, são inimigos, somente porque suas palavras narram ou
descrevem exatamente o que são. Na relação entre Jesus e os fariseus fica
evidenciado que o problema não residia no Senhor, que descrevia situações e
fatos da vida, mas nos fariseus que, ao verem seus pecados escancarados, se
aferravam muito mais à aridez de suas existências; porquanto, o gigantesco
orgulho os impedia de se quebrantarem e, por conseguinte, buscarem o perdão do
Deus encarnado.
Finalmente, os
fariseus se sentiam atingidos pelas palavras flamejantes de Cristo, porque,
embora manifestadas a uma audiência indistinta eles se ajustavam perfeitamente ao que Jesus denunciava como vício da alma
humana (cf. Mt. 5:5, 16; 23:1-35). Desse modo, ao invés de colocarem a mão
na consciência e admitirem para si a verdade proclamada por Cristo, eles se
enfureciam muito mais e davam vazão ao que de mais reprovável habita o
recôndito do ser humano caído.
Em verdade,
ao serem destituídos de moderação e inteligência para perceberem a abstração do
discurso de Cristo, os fariseus demonstraram sua monumental incapacidade de
articular um diálogo que possibilitasse sua restauração, pois se embrenhavam
cada vez mais no fosso do ódio cavado por corações perversos.
Diante do
exposto é pertinente sublinhar que opinião, a rigor, se funda em dados
empíricos gerais, daí porque, ao analisar determinado fenômeno – o
comportamento do ser humano, por exemplo – abstrai-se dessa análise o indivíduo
atomizado, pois, trata-se deste, somente enquanto ser amalgamado pelo conjunto
de sua espécie. Desse modo, fica a cargo de cada pessoa, em sua subjetividade,
sentir-se atingida ou não por aquilo que leu ou ouviu.
Em suma,
quando alguém aplica, particularmente para si, uma opinião, fruto da análise
geral de um determinado fenômeno, torna-se verdadeiro o dito popular que reza: “se vestiu a carapuça é porque serviu...” Neste
caso, só me resta dizer como diz uma sobrinha minha, neopentecostal, ao se
encontrar diante de uma situação difícil: “Oh!
Jeová! Só Jesus na causa!”