Caro pastor Lucimar, na sua pessoa quero chegar
ao coração de todos os irmãos que congregam nesta Igreja, pastoreada pelo
senhor, que chega aos 60 anos de fundação. Hoje é o dia de darmos as mãos,
olharmos para o céu e agradecer a Deus esta data, quando a sessenta anos atrás,
corajosos irmãos, lançaram nesta terra, os alicerces desta benfazeja casa de
oração e louvor, e difusão do Evangelho que salva, plantada desde sempre neste
mesmo lugar.
Celebramos hoje aqui, em Batalha a realidade
missionária, como existe e há de crescer entre vós e de vós para esta terra,
nesta comemoração que lhes dedicam meio século mais uma década. Graças a Deus
que aqui chegaram, pois só com a Sua graça o conseguiram. Oração e missão andam
a par. A missão de Jesus arranca da união ao Pai, a missão da Igreja não
acontece de outro modo.
O Apóstolo Paulo assim exorta Timóteo:
«Caríssimo: Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo […].
Proclama a Palavra, insiste a propósito e fora de propósito…». (2 Tm 4,2). Bom fundamento para o que aqui celebram hoje.
Na verdade, o Apóstolo juntava firmeza na fé e proclamação da Palavra, como
atitudes simultâneas de todo o cristão, que o queira realmente ser. Não vai uma
sem a outra, antes se enriquecem mutuamente. A fé confirma-se na missão e a
missão confirma a fé.
O que aprendemos, de fato, senão que Deus veio
ao nosso encontro em Jesus Cristo? E o que ouvimos de Cristo senão que devemos
propagar isso mesmo a todos e em qualquer parte e circunstância? Quem acredita
em Cristo, acredita-O no mundo, continuando-Lhe a missão, no impulso do mesmo
Espírito.
Hoje uno-me a vós em oração e, em coração para convosco
celebrar esta efeméride. Esta querida Igreja, que acolhe tantos e há tantos
anos, é, com certeza, um lugar sagrado. Tenho certeza que esta data, e estes festejos
são um convite para olhar para o passado com gratidão, e olhar o futuro com
esperança. Esta Igreja, para mim sempre foi um sinal de resistência, de
acolhida àqueles irmãos e irmãs que são chamados pelo Senhor Jesus a louvá-lo,
e a segui-lo de forma não católica, no sentido doutrinal do termo.
Caro amigo pastor Lucimar, quero destacar o
enorme respeito e sentido de ecumenismo que sempre foi transmitido pela vossa
Igreja, os “crentes” desta denominação no meu entendimento, vivem e transmitem
a sua fé com grande elegância, na medida em que não são “crentes chatos”, como
tantos que encontramos por ai, proselitistas, que querem fazer descer goela
abaixo a conversão dos demais, agindo assim entenderam, que é verdade que o
desejo de Jesus Cristo é “que todos sejam um” (Jo 17,21) mas que a Verdade não
se impõe, pois Cristo também não se impôs, se propôs, logo os bons
protestantes, propõem Cristo, não o impõem a ninguém, nem gastam as tintas em
discussões fundamentalistas, e discriminatórias, numa polêmica interminável, aos
berros com a Bíblia debaixo do braço em praças públicas, nem desfazem amizades
por questões de credo.
Sempre convivi na minha infância com o Davi
Samuel, seu filho, com a estimada Noemi, com o Samuel Rocha, com a Mazezinha da
dona Lizete e tantos outros, como crianças normais, que não discriminavam, e
nem eram discriminadas, por orarem diferente dos meninos católicos, como eu. E,
de fato em todos os ambientes os irmãos desta Igreja sempre primaram pelo
comportamento exemplar, nascido na escola do ecumenismo.
Voltemos nosso olhar para o passado, e
agradecemos ao Senhor Jesus, tantos membros fidedignos que deram a sua vida à
pregação do Evangelho, e na edificação desta distinta assembléia, que com a fidelidade
da presença nos cultos, na oblação de si mesmo, com os seus dízimos devolvidos,
na escuta e aplicação da Palavra Santa de nosso Deus, foram durante o
transcorrer destes 60 anos, o Evangelho Vivo acontecendo nestas terras da
Batalha, se olharmos com atenção não
faltaram figuras e vultos que merecem nossa recordação, como não recordam com o
coração cheio de saudades, a figura impávida
da Tia Altair, já à espera da Ressurreição, figura alta, elegante,
apertando por entres as mãos o Santo Livro, a Bíblia Sagrada, com seus olhos
vivos e saltitantes, a nos convidar para mais um culto, ou mesmo o Sr. José
Messias, que tanto me convidou a ir fazer uma experiência na vossa escola
bíblica, os antigos cadetes, até que um dia por lá apareci, e tanto gostei e
aprendi convosco. Atinja também a nossa gratidão o coração dos missionários
irlandeses Wesley Gould e Edmund Norwood, pela semente lançada em terras
batalhenses, quer vivos ou mortos! Sejam recompensados pela ousadia e
protagonismo no anuncio do Evangelho!
Celebrar 60 anos é também com a ousadia dos
profetas, tais como Isaias, Jeremias, Daniel olhar o futuro, com enorme
esperança! É preciso visitar os tempos e os tempos dos fundadores, mas não ficar
no tempo dos fundadores, o Evangelho exige das Igrejas novas leituras da
realidade que nos desafia, os filhos das trevas, liderados por Satanás e seus
servos, articulam-se ferozmente contra a Igreja do Senhor, a fragilidade de
muitos membros tente a manchar a imagem imaculada, da Igreja, santa e pecadora,
santa no seu fundamento, Jesus Cristo, e na assistência, o Espírito Santo, mas
pecadora nos seus membros.
Por isso, o futuro é emblemático e desafiador.
Temos hoje, os desafios das novas mídias, que ai devemos ver uma oportunidade e
não uma crise para o anúncio do Senhor, é preciso com o discernimento do Espírito
saber usar as novas linguagens, como novos areópagos, onde novos Paulos,
precisam estar com a sabedoria da Cruz, destemidamente anunciando o Evangelho,
que restaura o homem do pecado. Na cultura do descartável, e do tudo pronto,
somos também tentados a buscar resultados fáceis, a negociar as verdades
inegociáveis do Evangelho, a querer uma igreja à medida do Homem, e não homens
à medida da Igreja.
E ainda, sem falar no perigo do anuncio que não
considera o homem na sua totalidade, que não ver a graça de Deus acontecendo na
história, mesmo fragmentada e por vezes sem saber para onde caminha, há beleza
nos corações dos crentes, tantos testemunhos de dedicação, de amor ao Senhor,
que ultrapassam em mil, os maus crentes, que há do lado católico e protestante.
Como vemos, o desafio é enorme, olhar para o futuro requer, hoje ao chegar aos
60 anos, cara Igreja Cristã Evangélica de Batalha, a ousadia dos profetas, ou o
destemor corajoso daqueles jovens que mesmo na fornalha de fogo, (Dn 3) não
cessavam de louvar a Deus e proclamar a sua Fé, é Cristo que conduz cada
Igreja, que se reúne, que anuncia o Evangelho, é ele que nos sustenta!
O desafio cultural da missão é hoje grande,
exigindo-nos mais capacidade de escuta e mais disponibilidade dialogante,
ouvindo o que nos dizem e dizendo o que nos cumpre. Por vezes o “sair de casa”,
em sentido missionário, pode significar virar a esquina e entrar num mundo bem
diferente ali ao lado.
Desejo que o Espírito Santo continue a soprar
ventos e dons favoráveis ao progresso desta Igreja, por quem nutro respeito e
admiração, que a celebração destes 60 anos reavive nos corações o sentimento de
pertença, que cada membro que ai congrega, sinta um santo e vaidoso orgulho de
fazer parte desta história de colaboração para que o Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo, chegue a todos!
Sei o quanto o pastor Lucimar Rocha é amado
pelo rebanho desta Igreja, é muito fácil amá-lo pelo seu carisma contagiante,
sua fé testemunhal, sua sabedoria e zelo pastoral, são marcas incontestáveis de
sua personalidade pastoral, na sua pessoa quero confiar cada membro ao Pastor
dos pastores, o Bom Pastor, Cristo Senhor, que vocês continuem a crescem em
números e em obras diante de Deus e dos homens, é verdade que a doutrina nos
separa, mas também é verdade que o serviço nos une, as nossas diferenças não
alcançam o céu, mas nossos passos a caminho apontam o rumo para o Senhor!
Se nos primórdios desta fundação houve a
perseguição por partes de padres católicos, o tempo se encarregou da redenção,
com o tempo o Senhor através também de um padre católico, transmite a nossa
admiração pela vossa Igreja e, em nome destes irmãos peço vossa compreensão e
perdão! (O negrito é nosso)
Por fim, minha oração neste dia é em união de mente e coração convosco,
já não vivo em Batalha, mas levo-os no coração.
O impulso é o mesmo: ficando ou partindo,
regressando ou voltando a partir, o campo é o mundo inteiro, distendido ou
concentrado. Tudo cresce ao mesmo tempo e mutuamente se enriquece! Somos filhos
do mesmo Pai, e cremos no mesmo Deus, rezamos, ou oramos de forma diferente,
mas por caminhos diferentes, buscamos o mesmo, a conversão dos pecadores e a
proclamação do Senhorio absoluto de Cristo. Santo Natal a todos!
Parabéns que Deus vos abençoes com 60 corações!
Pe. Leonardo de Sales,
Lisboa capital
portuguesa, 7 de dezembro de 2019.
Esta carta foi enviada para a Igreja na data do aniversário de 60 anos, por ocasião das suas comemorações e estamos publicando a mesma na íntegra. O Padre Leonardo de Sales é Doutor em Teologia, autor de vários livros. É piauiense de Batalha residindo atualmente em Lisboa Portugal.