Tarefa muito difícil para mim postar neste blog Repórter de Deus a triste notícia do
falecimento de minha irmã Raimunda Rocha
Melo. De uma família de dez filhos, cinco homens e cinco mulheres, Ela era a segunda filha de Fausto e Altair
Rocha. Nascida em 1936, partiu aos 85 anos neste melancólico dia 2 de janeiro.
Deus planejou assim, bendito seja o nome do Senhor.
O culto fúnebre foi celebrado no templo onde se congregava e tem
o seu quase filho como pastor. Se existe
algo lindo em um velório, foi assim a despedida da minha irmã e quase mãe.
Todos os filhos presentes, três pastores, dois padres, irmãos, netos, noras,
sobrinhos genros, muitos amigos.
Cada religioso transmitiu uma palavra de consolo como: o Pr. de
Piracuruca Samuel Paulino, o de Esperantina Manoel Carlos, O Pe. Oziel Assunção,
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e o Teolólogo Católico Romano Pe. Leonardo
de Sales, residindo hoje em Lisboa no último ano de doutorado. Filho de
Batalha, quando menino e adolescente frequentou muito a casa de Raimunda. Em um momento em que todas as atenções foram
direcionadas ao sacerdote, Leonardo leu uma crônica escrita na madrugada (03)
em que derramou sua alma expressando sua
saudosa homenagem. Ei-la:
"Uma
canção diz que “Ninguém é de ninguém”, mas em Batalha todo mundo é de alguém.
Cresci escutando que a dona Raimunda era do Sr. Cristino, a Clésia era do
Agenor, a Fransquinha do José Messias e o seu Manuel era da Lizete! Mas na
verdade, prefiro crer que ninguém é deste mundo, mas vivemos em potencialização
para ir morar nas moradas eternas.
Assim,
na noite de ontem dona Raimunda foi chamada, era uma senhora simpática, sua
presença era garantia de alegria, quando alguém for fazer a lista das mulheres
elegantes desta terra, citar seu nome será uma obrigação, pois ela estava
sempre pronta, enfeitada, com seus colares e joias dependurados em seu pescoço
que segurava uma cabeça sempre preocupada com a gerencia de seu matriarcado.
Mãe
do Cristino Filho, do Sérgio Luís, da Porcina, da Isabel, da Maria José, da
Sónia, da Taizinha e da Georgelice, e avó dedicada de tantos netos, dos que
recordo, do Flávio Rangel, meu amigo de infância, da Lorena, e de tantos
outros, comadre da minha avó, madrinha estimada do Riba, amiga da minha avó
Teresa, e de inúmeras senhoras de sua idade.
Dona
Raimunda foi dar gargalhadas no céu!
Minha
infância, foi marcada pela sua presença, sempre com seu clã à porta da rua,
pelo cair da noite, à espera do vento da Parnaíba, sentada na sua cadeira de
fitilho, a deitar gargalhadas e perguntando a quem passava, aos afilhados e meninos
da rua, se as comadres estavam bem, e recomendar aos mais afoitos que era hora
de ir para casa, ou se tinham ido à escola.
Foi
e será sempre a dona Raimunda do seu Cristino, a quem no dia do casamento assim
me contou certa vez a minha avó, este pormenor, que quando o padre perguntou se
queria casar com o Cristino Melo, ela respondeu prontamente: “quero e
re-quequero”, tamanho era o amor pelo simpático e franzino, discreto Cristino
Melo, cujos olhos azuis são para mim inesquecíveis.
Nos
últimos anos travou uma guerra contra o seu coração, que enfraquecido teimava
em querer ceifar lhe a vida, cuja última Batalha perdeu no dia 02 de janeiro de
2021, o coração não aguentou, parou, mas não poderá parar os batimentos dos
nossos sentimentos de amizade e admiração pela alegria com que contagiava este
quarteirão da Avenida Getúlio Vargas; pela mãe zelosa, avó presente e amiga de
todos. Crente no Evangelho de Cristo e discípula do divino Mestre, a quem
seguiu em vida as pegadas.
Dona
Raimunda revelou-se mesmo ser uma verdadeira Rocha, não só no sobrenome que
ostentava, mas na luta que travou contra a doença, suas idas e vindas aos
médicos em busca de soluções, foi rocha quando manteve um matrimônio até o
fechar dos olhos do esposo; quando na calçada de sua casa era sinal vivo de uma
alegria contagiante, mesmo que talvez muitas vezes não tivesse lá tantos
motivos para sorrisos.
Filha
do Sr. Fausto e da Mãe Rocha, ontem voltou para casa. Todos os fardos foram um
nada, se comparados com a doença que heroicamente suportou sobre as asas do seu
coração. Todo o sofrimento advindo da doença se tornou oração ou asas com as
quais se elevou em direção a Deus.
Querida
dona Raimunda queria lhe dizer que já tive medo da morte. Hoje não tenho mais.
O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer,
que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não
quero ir embora... Se a vida é uma surpresa, a morte é surpreendente. Jogados
nesta existência como resultado de um encontro amoroso entre um homem e uma
mulher, lamentamos abandonar o cálido acolhimento do útero, o reino ignaro da
consciência, a fruição permanente, o aflorar dos tecidos, dos músculos, dos
membros, dos órgãos, do ser. Súbito, na sequência de poucos meses, eis-nos
castrados do vínculo placentário e atirados no fluxo planetário. O homem nasce
para morrer, já disse alguém.
Morrer,
no entanto, não é tudo. Remetidos ao mais profundo dos nossos corações, fonte
dos nossos sentimentos e dos valores que emolduram nossas mentes e escolhas, a
realidade da morte nos permite aprender uma das mais importantes lições da
nossa vida: a invisibilidade dos nossos entes que partiram não é ausência, mas
sim uma lição fecundada pela saudade que não passa, pelo amor inesgotável e
pela lembrança perene. Estão invisíveis, mas não estão ausentes.
Conheci
há mais de quarenta anos, uma senhora, de alta estatura e grande no espírito. O
proprietário da casa onde esta senhora morava não queria gastar mais com
reparos na casa velha: o beiral estava minado pelo cupim, o encanamento
obsoleto.
A
notificação não agradou a inquilina, pois gostava dos arredores. De sentar-se à
porta de casa, para ver o tempo passar junto com sua parentela. Num dia de
ventania percebeu que o vigamento tremia e decidiu pela mudança.
Na
ocasião, por sorte, um amigo em idêntica situação, descobrira além-rio um
bonito território. Traçou um roteiro para atingir o local e acrescentou que
para um investimento ali estava disposto a qualquer sacrifício. Para testificar
de maneira concreta a beleza daquela terra prometida mandou vários cachos de
uva deliciosos.
Na
verdade, a inquilina chegou a se aproximar das margens algumas vezes. Depois
desejou encontrar-se com o grupo que cantava louvores ao rei do lado de lá.
Acabou se questionando francamente:
–
Para que continuar a investir quando estou resolvida a mudar?
E,
a casa emprestada do corpo da dona Raimunda, qual um casulo de borboleta, foi
apresentando ruínas: um sofrimento tremendo lhe veio ao encontro, com muitas
idas e vindas aos hospitais. E com seus anos bem andados anos, nascida em 15 de
março de 1935, foi-se convencendo intimamente que um dia seria preciso se
mudar.
Por
sorte, um amigo dela veio de além-rio para nos falar de um mundo maravilhoso. E
até deu para dona Raimunda um roteiro de como chegar lá: O Evangelho. E como
antegosto da terra da Promessa, Jesus trouxe um vinho que excede todo sabor e
um trigo que é pão dos anjos.
Não
temos muita clareza dona Raimunda das coisas de lá. Agora a senhora mais que
nós, já pode sanar suas dúvidas quanto ao céu, pois você está nele. Mas,
basta-nos saber que é a casa de nosso Pai e que Deus é o seu Sol. Longe das
dissoluções desta vida teremos plena certeza, completa, alargada...
A
dona Raimunda voltou para casa, que grande notícia, espalhada pelo mundo no dia
02. 01.2021! Ela vai para casa, mas para outra casa. Que diferença entre voltar
para a casa em Batalha, a rua em que morava por mais de 60 anos, para uma casa
de tijolos e pedras, e ir para a grande casa, a casa da luz, da beleza, da
vida, do amor, da esperança! E ela vai diferente.
Para
Batalha, ela voltava com o mesmo corpo que sofria, que se cansava, que
carregava saudades e tristezas O corpo que sofreu ao ser tão machucado pela
doença que enfrentou, que chorou tantas lágrimas, que passou tantas noites sem
dormir, preocupada com tantos problemas, que passou pela morte de seu amado
esposo Cristino.
Agora,
ela também vai para casa, mas com seu corpo glorioso, na transparência de tudo
o que construiu na história. Só que, enquanto construía esse corpo aqui na
Terra, ele estava vedado, obscurecido por toda a nossa fragilidade.
O
certo é que não encontraremos mais a nossa dona Raimunda na casa alugada desde
mundo. Ela está do lado de lá onde Jesus preparou uma morada para a sua e nossa
fiel amiga. Em eterna primavera em companhia de sua mãe Altair e seu Pai Fausto
e de seus amigos e parentes já falecidos.
E
Jesus chorou... Diz o Evangelho. Chorou de maneira comovente pelo seu amigo
Lázaro. O melhor que um homem pode dar de si, depois de seu sangue, é uma
lágrima. Jesus deu por nós as duas coisas: seu sangue e suas lágrimas. Choremos
pela dona Raimunda, mas sejam nossas lágrimas de saudades desse grande ser
humano que palmilhou o chão dessa terra!
Do
céu dona Raimunda sorri e nos consola: “Vós sois o que eu era, e tão logo,
sereis o que eu sou”. “Eu sou a ressureição e a vida, quem crer em mim viverá
eternamente! Querida dona Raimunda, nosso adeus e até a eternidade!"
Pe.
Leonardo de Sales.