quarta-feira, 14 de março de 2012

A MENTIRA NOSSA DE CADA DIA.

A MENTIRA NOSSA DE CADA DIA.
Rev. Inácio P. Pinto

Rev. Inácio P. Pinto
A mentira tem arruinado a vida de muita gente. É uma desgraça com poder cósmico de destruição! Quem duvidar basta dar uma olhadela no diálogo entre a serpente e nossos primeiros pais e facilmente se convencerá do que estou a dizer.
A mentira da serpente, crida por Eva e difundida a Adão arruinou toda a criação e feriu de morte o relacionamento da humanidade com Deus.
Lamentavelmente, a mentira entrou no palco da experiência humana através da serpente e passou a ser companheira de viagem de cada ser parido no berço de sua contaminação; exceto Cristo, O antiverso do mal. 
Tenho ficado perplexo diante da facilidade com que se constrói, difunde-se e crê-se nas mentiras mais estapafúrdias elaboradas pelos correspondentes modernos da serpente do Édem.
Minha perplexidade se agiganta ao perceber que muitos cristãos aparentemente sérios e comprometidos com a verdade são (Ingênua ou maledicentemente) disseminadores de mentiras que ouviram. Esta realidade cruel provoca feridas horríveis, e, não raras vezes a morte do caluniado; senão literal, seguramente emocional, espiritual, social etc.
         Hoje muita coisa que se crê do ponto de vista histórico, corresponde à história de quem a elaborou. Recentemente o mundo se amedrontou diante da possibilidade ‘real’ de o Iraque produzir uma bomba atômica. Àquele país foi invadido, seu ditador apeado do poder e enforcado, num show dantesco protagonizado por seus opositores. Depois se descobriu que não havia bomba, nem artefatos que ensejassem sua construção. Os Estados Unidos plantaram a mentira, o mundo creu e Saddam foi pro espaço. A hegemonia político/econômica/bélica do Império do Norte, mais uma vez brilhou no palco do domínio internacional
Ao recuar na história, nos deparamos com um momento aterrador: o genocídio de milhões de judeus provocado pelo governo nazista alemão. Subjacente a esta carnificina repousava no coração de Hitler e seus colaboradores a ideologia de que algumas pessoas haviam sido dotadas de herança genética superior as demais. Hitler conseguiu infundir na cabeça do povo alemão esta mentira. O resultado foi catastrófico.
Sabedor do valor da mentira para seus intentos malignos, Hitler (GREENE, Robert. 2000, p. 354) chegou a afirmar: “Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela.”
O homem forte de Hitler, Joseph Goeebels (GREENE, Robert. 2000, p. 356) responsável pelo marketing do nazismo, assim se expressou: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”
A história do Brasil, também conta com muitas páginas de mentiras oficiais. Ao negro foi impingida a marca de bruto e sem alma; bicho destinado à escravidão. Nesta situação restou ao próprio negro assimilar a ideologia escravagista e enxergar-se pelos olhos de seu algoz. O notável intelectual brasileiro Darcy Ribeiro (1995, p. 222) observa que na atual conjuntura social brasileira os negros

“(...) são tidos consensualmente como culpados de suas próprias desgraças, explicadas como características da raça e não como resultado da escravidão e da opressão. Essa visão deformada é assimilada (...) até pelos negros que conseguem ascender socialmente, os quais se somam ao contingente branco para discriminar o negro-massa”.

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Lamentavelmente, neste caso, para os que dela são vítimas.
A Igreja, não obstante ter o dever moral e espiritual de ser ambiente onde a verdade se cristaliza, viu-se em meio a mentiras responsáveis pela morte de muitos cristãos sinceros e piedosos. A igreja institucionalizada caçou, torturou e matou em nome de Deus, gente que tinha como erro ser gente de Deus. Todavia, mentiras foram ditas a respeito de tais pessoas a ponto de a opinião pública não lhes dar outro destino, senão a morte por heresia.  
Jesus também sofreu pelas mentiras a seu respeito. Não fosse o poder divino intervir na história, teríamos uma mentira celebrada em nossos dias: a de que O Salvador não ressuscitou, mas teve seu Corpo roubado por seus discípulos. Um louco blasfemo! Iconoclasta dos bons costumes e da tradição religiosa, cujos pilares eram Abraão e Moisés. Esta foi a mentira arquitetada pelos fariseus.
Com efeito, para certos grupos de pessoas, de nada serviu os milagres realizados por Cristo. Nenhuma influência gerou no coração de homens religiosos o fato de Jesus pregar o arrependimento e o perdão. De somenos importância para corações endurecidos era a proclamação Crística de que toda a lei se resume em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Queriam apagar Jesus da memória do povo.
Diante destes fatos pergunto: o que motiva as pessoas em direção à mentira? Qual a força motriz que conduz alguém a não dizer a verdade? Qual interesse subjaz à determinação de alguém disseminar ‘fatos’ que prejudicam o próximo, sem sequer ter tido a honestidade de checar se o que divulga é verdadeiro ou não? O que leva um ‘cristão’ a ser entusiasta na divulgação de um ‘fato’ somente por que “ouviu falar?”.
Quero sugerir algumas respostas. Não exauri-las; apenas sublinhar aquelas que, frutos de minhas leituras, estudos e observações, julguei importantes compartilhá-las.

1.      Objetivo Insano:
Hitler tencionava assenhorear-se do mundo e transformar a falaciosa supremacia da raça ariana em verdade absoluta para todos os povos. Sua sede de poder encontrou eco na prepotência, e, por que não dizer na imbecilidade de quem creu e se tornou promotor dela: “Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela.”
Em sua insanidade, Hitler mentiu, empolgou aliados, arrastou multidão, ceifou milhões de vidas inocentes... A mentira é cruel! Seus divulgadores, demoníacos!
2.      Falta de Percepção Espiritual.
Aqui me refiro obviamente às pessoas alegadamente cristãs, mas que são canais de disseminação de fofocas e falsidades. O correspondente bíblico/histórico desse tipo de gente está retratado na elite religiosa do tempo de Jesus. Em nome de Deus os religiosos (alguns eram sacerdotes e membros do Sinédrio) caluniaram, prenderam, processaram e mataram O Filho de Deus. Essa gente estava com a mente tão embotada que já não se dava conta de que o que vivia era uma mentira. Assim sendo, a mentira passou a ser a verdade a mover sua vida. Ainda hoje, lamentavelmente, encontramos fariseus travestidos de cristãos. Almas enfermas e enfermantes. Corações apodrecidos que apodrecem tantos outros. Servos do deus ventre; paridores de serpentes. Contadores de meias verdades; mentirosos por inteiros. Disseminadores do que apenas ouviram; caluniadores, porque não buscam a verdade. Santos em sua exterioridade; luciferianos interiormente. Gente que se compraz em falar mal do próximo, contudo, jamais teve a coragem de olhar olhos nos olhos de quem fala mal e tratar do assunto de maneira aberta e honesta, porquanto, sabe que suas falações não resistem à verdade; são apenas produtos de uma mente que perdeu a piedade cristã. Estão cegos pelo ódio que alimentam (cf. 1Jo.2:9,11). 
3.      Apego a Valores e Tradição Humana.
Eis novamente a figura dos escribas e fariseus a iluminar o caminho dos que se deleitam em falar mal do próximo. Os valores da religião estabelecida eram mais importantes do que um honesto relacionamento com Deus. A tradição daquilo que entenderam ser correto falava mais alto que a voz de Jesus a chamá-los ao arrependimento. A palavra do Salvador queimava-lhes a consciência; todavia, ao invés de admitirem seus erros preferiram denunciar O Profeta da salvação como falso profeta; ou alguém contrário a obra de Deus. Não tenho dúvida: um dos grandes erros dos fariseus foi pensar que sabiam o que não sabiam. Imaginaram que todo o conjunto de valores e tradição religiosa construídos por seus antepassados lhes garantiria entrada no céu. Confundiram relacionamento com Deus com a encenação hipócrita de sua religiosidade. No dizer de Cristo eram bonitos por fora; toda a aparência era de gente comprometida com a obra de Deus; interiormente, contudo, eram depósitos de carniça humana, sepulcros caiados. Exteriorizaram toda essa podridão ao matarem Jesus. A mentira é uma desgraça!
4.      Perversidade Ingênua:
Ouvi alguém, certa vez dizer, que, fofocar parece fazer bem à pele. O fofoqueiro estica a pele do rosto, os olhos brilham e uma aura de prazer toma conta do ambiente. Chamo isso de perversidade ingênua. Ingênua, porque a priori o indivíduo não parece ter um propósito claro e nem interesse particular na vida a respeito de quem tece comentários maldosos; o faz por puro ‘lazer’; tornando-se, por conseguinte, instrumento útil/perverso na difamação do próximo. Esse tipo de gente, diz o que diz, somente por que sempre tem que ter algo a dizer. Não se importa com quem, nem o quanto pode prejudicar uma vida.
5.      Interesse na Mentira Propalada:
Diferente do perverso ingênuo; existem aqueles que nutrem interesse na mentira propalada. Não a iniciaram, porém sentem prazer em divulgá-la. Não têm certeza de nada, contudo, se deliciam em passar sua fofoca como fato. São mordazes em seus comentários e torcem para que o que disseminam seja verdade. São embaixadores do inferno a semear confusão.
6.      Projeção:
Este é um mecanismo do inconsciente. O mentiroso ou fofoqueiro, jamais admitiria sua condição patológica, quiçá, desconheça; assim, o melhor a fazer com o objetivo de expurgar sua enfermidade psicológica é atribuir a outrem o mal profundamente enraizado em sua própria vida. Ao invés de admitir que não suporta fulano, ou que nutre inveja por sicrano, ou ainda, que abriga ciúmes de beltrano, ou mais, que alimenta mágoa e rancor do fusitrano; o mentiroso/fofoqueiro simplesmente procura se redimir diante das pessoas e de sua própria consciência afirmando que a pessoa que ele odeia é  maligna, quando a verdade depõe ao contrário. Como bem ressaltou Paul Hoff (1996, p. 41) “...o mentiroso sente-se melhor se puder convencer os outros e a si mesmo que a pessoa de quem ele fala mal não é digna de confiança e amor”. É a síndrome luciferiana encarnada na vida de gente que se diz cristã. 
7.      Ilusão Quanto a Verdade:
Quando o Diabo tentou Eva e a ela mentiu a respeito do caráter Deus, creio que ele convenceu a si mesmo de que sua mentira era verdade, daí convenceu Eva, que, ingenuamente colocou Deus numa situação de mentiroso. Dito de outra forma: na relação de Eva com a serpente a mentira do diabo passou a ser a verdade de ambos e a verdade de Deus passou a ser a mentira da hora. O que houve foi uma ilusão quanto à realidade. Por ter sido o primeiro a engendrar uma mentira e a falar mal de alguém, o diabo ficou conhecido como o Pai da mentira. A história tem comprovado que seus filhos têm nascido aos borbotões e deploravelmente os vemos embalados no berço de igrejas. Perderam o sentido da verdade, vivem a mentira de seu pai, o diabo. Deste modo, o tinhoso continua a fazer estragos horríveis no meio do povo de Deus.  
8.      Sentimento de Inferioridade e Inveja:
Neste quesito a psicologia mais uma vez nos ajuda. Não raro, pessoas que cumprem o papel de difamadoras, destruidoras da honra alheia são profundamente invejosas (inveja não é desejar o que o outro tem, mas não querer que o outro tenha o que tem; seja dinheiro, inteligência, sucesso, vida tranqüila etc. Daí a pessoa invejosa envida todos os esforços no sentido de destruir aquele que lhe incomoda).   Irmã siamesa da inveja é a inferioridade. No fundo o que o invejoso sente é inferioridade em relação ao outro. A calúnia e difamação tornam-se uma tentativa de superar essa patologia que lhe assombra. Ao comentar sobre este assunto o teólogo Isaltino G. Coelho Filho (2003, p. 149) afirma que a fofoca para o fofoqueiro é um pecado “extremamente compensador. [pois] Ao falar mal de alguém, o falador o rebaixa e se eleva sobre ele”. Destarte, em sua inferiorização e inveja o assassino da honra alheia tenta exorcizar os demônios que apavoram sua alma pelo conforto de demonizar aqueles que odeia. 
Ante este quadro tão assustador suscitam outras indagações: O que fazer? Como nós cristãos podemos ser referência da verdade e não dá mentira? De que maneira, gente que se diz cristã pode ser curada de suas doenças emocionais que lhe conduzem a mentira: ódio, raiva, rancor, inveja, sentimento de inferioridade, mágoa, rebeldia, mordacidade, maledicência, etc?
Após ser batizado e ter enfrentado o diabo no deserto (cf. Mt. 3:13-17 e 4:1-11), Jesus incorporou o discurso de João Batista e passou a pregar arrependimento (cf. Mt. 4:17). Ora, o que é o arrependimento senão a tácita decisão de abandonar o caminho de erro para seguir o caminho da verdade.
O chamamento de Jesus ao arrependimento é um chamamento à verdade. Inexiste arrependimento sem que a verdade seja plenamente vivenciada por quem se alega arrependido; porquanto, é somente pelo arrependimento que um novo modo de ser é implantado no indivíduo, e, por conseguinte o caráter da Verdade, Jesus, brilha intensamente em sua vida, e, a mentira nossa de cada dia, promotora de tantos estragos, desaparece.

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