ATRAÍDO PELO CAJADO
O ano era 1967, a cidade era Governador Archer, Maranhão, a Igreja era uma ICE recém organizada, muito simples, formada por homens e mulheres que viviam da lavoura para o sustento de suas famílias e nossa família era recém convertida a Cristo, mas com um senso muito grande de sua missão, por isso, acolhiam todos os missionários que por lá chegavam; e eu era uma criança de 6 anos de idade.
No ano acima citado o missionário John Canfield, diretor do seminário e membro diretor da AICEB, foi visitar nossa igreja e ficou hospedado em nossa casa, como costume dos meus pais acolher pastores visitantes. Lembro-me como se fosse hoje, que o missionário estava sentado em um tamborete, na sala, e quando eu ía passando, ele me alcançou com o seu cajado, no meu pescoço, e me atraiu para junto de si. (o missionário utilizava um cajado porque tinha um defeito numa perna). Entrei em pânico, chorei muito, até que minha mãe chegou e me consolou. Nunca esqueci daquela cena, pois constituiu-se num trauma emocional na minha vida de infância. Depois, na vida adulta, tive uma outra percepção do que seria aquele chamado estranho.
Em 1986, eu estava com 25 anos e era estudante de teologia no Seminário Cristão Evangélico do Norte, por ocasião das celebrações do seu jubileu de ouro, 50 anos de serviços prestados ao reino de Deus, na preparação de vocacionados para o serviço divino. Na ocasião, os ex-diretores do SCEN estavam presentes, e dentre eles, o homem do cajado que havia me puxado para si, o Rev. John Canfield. Cheguei a ele, e perguntei: O senhor se lembra da cena que ocorreu em 1968, quando o senhor puxou pelo seu cajado uma criança na cidade de Governador Archer? Ele respondeu: “lembro muito bem! Está muito presente em minha memória, pois me causou um sentimento de culpa muito grande. A criança chorou muito e achei que os pais iriam me expulsar de sua casa”, disse o missionário. Aí eu falei: Aquela criança sou eu. Hoje sou aluno do SCEN. O senhor foi usado por Deus para dar sinais do Seu chamado para minha vida. Aquele cajado não era uma simples bengala para lhe firmar os pés, mas uma arma poderosa nas mãos de Deus para me mostrar o caminho que eu deveria seguir. Aquele cajado foi usado não somente para me aproximar do irmão, com muito choro, mas acima de tudo para me aproximar de Deus e servi-Lo por toda minha vida. O missionário ficou muito aliviado com o meu depoimento!
Hoje presido a Aliança das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil, cargo outrora ocupado por ele nos primeiros da AICEB. Sim, por aquele que me atraiu com o seu cajado. Não convivi de perto com o missionário, pois quando ingressei como estudante no SCEN ele já não morava no Brasil. Assim, o vi, apenas duas vezes: quando criança, aos 6 anos; e quando jovem, aos 25 anos. Entretanto, sua influência foi extremamente forte e positiva em minha vida, por um simples gesto, talvez de brincadeira.
Poderia alistar outros missionários que contribuíram para minha formação do caráter cristão e preparativos ministeriais, como, Wesley Gould e Winnie, que até hoje se correspondem comigo. Eles moraram em Dom Pedro e assistiam a Igreja de Governador Archer. Cito, também, outros missionários e missionárias, que foram nossos professores no SCEN, a saber, as professora Joana Collet, Doris Nielsen, Elisabeth Oldehus, e os professores Carlos Stoner, Geraldo Hunk, Josué Reifler.
Louvo a Deus pela vida desses homens e mulheres que foram fiéis ao seu chamado para a salvação e serviço, que se gastaram e se deixaram gastar nos evangelizando e capacitando para a excelente obra.
No amor de Cristo, nosso fundamento,
Pr. Rivaldo Braga
Presidente da AICEB
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