A IDENTIDADE DA AICEB E AICEBIANOS CIRCUNSTANCIAIS
Ortega Y Gasset, filósofo espanhol, entende que o ser
humano, em razão das permanentes transformações do universo (psicológico,
físico e social) que o rodeia, é, por conseguinte, sua própria circunstância.
Não há, portanto, neste sentido, a definitividade
de um ser, mas somente um ser que vivencia uma dinâmica mudável, transformável...,
visto ser ele resultado de sua temporalidade (circunstância). Neste diapasão, podemos dizer que o ser nunca
é, pois está submetido a um processo constante de alteração, corolário do
universo circundante em que vive. Assim, é absolutamente impossível a
construção de uma identidade. Maquiavel, por sua vez, assinala a temporalidade
comportamental do ser humano e afirma que este, age consoante seus interesses
mais egoístas entranhados no porão de sua alma. Daí a conclusão do pai da
ciência politica de que o Príncipe jamais deveria confiar, de todo, em seus
súditos. Desse modo, conclui o celebrado mestre: entre ser amado e temido é
preferível ser temido, posto que o temor dissuadiria os falsos, dissimulados,
fementidos e mentirosos a não intentarem contra o governante. Ou seja, o temor
evitaria que fatores exteriores conduzissem os dissimulados e circunstanciais a
se voltarem contra a majestade por causa de interesses pessoais rasteiros.
Na Bíblia, Tiago alerta para um tipo de gente que se
assemelha a onda do mar, impelida e agitada pelo vento; nunca é firme e
constante, está sempre a mudar de posição. O autor bíblico alerta que esse tipo
de gente não merece confiança e nada conseguirá na vida, porquanto, a fé é
somente aguada expressão de um caráter duvidoso e de uma personalidade débil
(cf. Tg. 1:6-8). Cumpre ressaltar, também, a preocupação do Senhor Jesus quanto
a firmeza de caráter dos cristãos veiculada através de suas palavras. O cristão,
em hipótese alguma deve tergiversar, ou se esconder atrás de conveniências
subjetivas; sua palavra deve ser firme como rocha e inabalável como o céu. O
cristão deve dizer sim, quando as circunstâncias exigirem sim; deve dizer não quando o contexto circundante
exigir não. O que passar disso é obra do tinhoso.
Lamentavelmente, a sociedade contemporânea, eivada de
relatividades, não valoriza referenciais absolutos e se põe a cultuar valores
subjetivistas sujeitos às circunstâncias. Esse fenômeno, a meu sentir, tem
alcançado os rincões aicebianos, (não falo aqui de instâncias de governo ou
representativas de órgãos). Gente que diz vestir a camisa da AICEB, que defende
vorazmente amor e compromisso com a denominação..., porém, todo esse desbragado
amor é dosado conforme o vento circunstancial a soprar em sua moleira. Com
efeito, se as pessoas que compõem o governo da AICEB, tanto em nível regional
como nacional, são de sua simpatia, essa gente se apressa em declarar as mais
cândidas manifestações de amor a AICEB; caso contrário, a AICEB se transforma
em uma espécie de dama da noite: usada, abusada, desvalorizada e mal amada... Gente
assim é incapaz de diferenciar a AICEB –
dotada de um ethos próprio – das ações de governo duma determinada
instância denominacional. Frise-se, todavia, que ações administrativas de
governo devem ser criticadas e rechaçadas, caso não se amoldem ao figurino do
direito, costume e teologia esposados por esta denominação. De outra parte,
atos administrativos de quaisquer espécies emanados da administração, que
estejam perfeitamente alinhados, ou não colidam com ordenamento jurídico
denominacional, ainda que contrariem os gostos, expectativas e vontades de quem
pensa diferente, precisa, por força da unidade denominacional, e, sobretudo,
espírito cristão, ser acatado com ânimo de mansidão, humildade e submissão.
O aicebiano verdadeiro não estimula facções; muito
menos se posta no campo da oposição gratuita (isso é coisa do capiroto);
tampouco vive a reverberar suas insatisfações a procura de discípulos que não
admitem a AICEB ser o que ela é, mas querem-na à imagem e semelhança do
subjetivismo enviesado que pulsa em seus corações descontentes.
O aicebiano circunstancial não pensa como estadista,
mas como oportunista. Para este, não importa o que a AICEB é, enquanto
expressão da alma de seu povo, mas o que intenciona que ela seja, ainda que
divorciada de seus cânones. Zygmunt Bauman, pensador polonês, acentua que a
sociedade em geral vive tempos líquidos. Para Bauman nada resiste ao tempo. As
formas, historicamente definidas ruíram e em seu lugar restou a liquidez. Na
sociedade líquida inexiste a possibilidade de galvanizar identidades, porquanto,
identidade necessita de estruturas sólidas como útero a produzir-lhe vida.
A AICEB não pode fluir ao sabor de aicebianos líquidos
e circunstanciais que vivem sob a efervescência de suas almas intranquilas, e,
não raras vezes, incontroláveis que almejam redesenhar o arcabouço desta
denominação pelas cores subjacentes a interesses que tem aparência de piedade,
mas por serem espúrios, são inconfessáveis.
Pr. Ignácio Pimentel Pinto |
O texto soa um pouco pedante, usar de linguagem simples não é feio e o alcance é bem mais efetivo, tendo em vista os vários tipos de leitores que abraçam a denominação.
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